Extraído do livro "A Grande Arte da Luz e da Sombra", de Laurent Mannoni
A Via Marey
Edison foi convidado para ir a exposição Universal, em Paris, inaugurada em 6 de maio de 1889 pelo presidente da República, Sadi Carnot. Ele deixou os Estados Unidos em 3 de agosto. Durante sua permanência na capital francesa, foi levado a praticamente todos os lugares, e não pôde evitar, segundo suas próprias palavras, "a comida francesa", que lhe causou alguns inconvenientes gástricos: Fui muito festejado, muito alimentado", acrescentará ele mais tarde. Em 19 de agosto, visitou a Académie des Sciences, em companhia de Jules Janssen. E evidentemente foi levado à Torre Eiffel, então recém-inaugurada.
Em companhia de Marey, que lhe serviu de guia, Edison fez uma visita à exposição francesa de fotografia, no primeiro andar do Palais des Arts Libéraux [Palácio das Artes Liberais]. Mais de trezentos participantes expunham seus trabalhos e aparelhos, entre eles Eugène Pirou, futuro empresário de cinema, Nadar com suas ampliações fotográficas em papel Eastman, os irmãos Lumière e suas chapas de brometo gelatinoso, Janssen, com fotografias astronômicas, e Londe exibindo imagens do hospital Salpêtri. E, naturalmente, Marey o conduziu ao estande da cronofotografia, assim descrito por um contemporâneo:
O Sr. Marey mostrou uma série de fotografias notáveis feitas no Institut Physiologique do Parc des Princes, que lhe permitiram fixar com exatidão as regras do vôo dos pássaros e as diversas posições do homem ou do cavalo em diferentes passos.
Teria ele visto também (na seção de brinquedos) os praxinoscópio e a primeira versão do teatro óptico de Émile Reynaud, supondo-se que este último aparelho estivesse realmente em exposição? É difícil afirmar. Mas a influência de Marey, que lhe mostrou suas tiras cronofotográficas e suas câmeras, parece evidente.
Convencido de que o cilindro fotográfico era um beco sem saída, Edison retornou a West Orange em 6 de outubro e redigiu com mão de mestre um novo requerimento de pervilégio que refletia claramente a "influência francesa", segundo a expressão de Gordon Hendricks. Nesse texto, datado de 2 de novembro de 1889, Edison descreveu um filme emulsionado e transparente, perfurado dos dois lados como nas tiras do "telégrafo automático de Wheatstone" (nunhuma menção foi feita às patentes francesa e inglesa de Reynaud, requeridas em dezembro de 1888; Marey tampouco foi citado). Essa película correria entre duas bobinas no foco de uma objetiva, com uma roda dentada penetrando nas perfurações da tira, para tracioná-la uniformemente. Estamos longe do fonógrafo óptico de cilindro e bem à frente do processo cronofotográfico de Merey, que não utilizava tiras perfuradas e não dispunha de um sistema de arrasto tão regular.
Por volta de 2 setembro de 1889, Dickson encomendou alguns rolos de filme Kodak a George Eastman; voltou a fazer a encomenda em novembro, sem dúvida por exigência de Edison. Assim, no final do ano de 1889 estava tudo pronto para o início da produção de filmes cronofotográficos no Photographic Building de West Orange. E no entanto as pesquisas caminhavam muito lentamente, até porque a fotografia animada era apenas um dos muitos assuntos que interessavam Edison, e uma vez mais na direção errada. No mês de novembro de 1890, ao que parece, Dickson e Brown conseguiram fazer três Monkeyshines (tentaivas experimentais, macaquices, palhaçadas), enrolando um filme celulóide em torno de um cilindro. Esses "filmes" ainda existem, e mostram centenas de fotografias minúsculas de um homem em fundo preto (possivelmente G. Sacco Albanese, um empregao de Edison), agitando os braços como num exercício atlético.
O Quinetoscópio de Filme Perfurado.
Entre novembro de 1890 e o início de 1891, Edison corrigiu o rumo e instou Dickson a seguir as diretrizes do requerimento de previlégio de 2 de novembro de 1889.
No comments:
Post a Comment